A história do processo de apropriação da terra no Brasil é marcada por várias peculiaridades, embora muitas delas sejam profundamente desconhecidas ou pouco debatidas pela historiografia nacional. Desde as décadas finais do século XX, entretanto, a produção de pesquisas sobre o tema alavancou o campo da História Rural e/ou Agrária no paíse e, especialmente a partir da sua interface com as experiências lusas. A trajetória de consolidação da temática da propriedade, ultimamente, têm direcionado seu olhar para novos objetos e fontes, sem ignorar, contudo, as pretéritas contribuições de autores brasileiros e europeus.
Temas como o uso e o controle das águas e sua relação com a apropriação do espaço tem alcançado lugar importante nos debates. Por sua vez, essa nova historiografia busca problematizar processos históricos que articulam, em suas origens, mecanismos de ocupação e racionalização do território em diferentes regiões do país e bo mundo luso. A exploração de recursos naturais em biomas diferenciados, o impacto de eventos de escassez ou abundância de chuvas na organização econômica e as capacidades de controle do Estado em face a dinâmica de trabalho e produção são outras frentes de análise possíveis no âmbito da História Social das Propriedades.
Nesse ambiente, se insere igualmente o tema da agricultura de alimentação e sua importância em diferentes contextos históricos, tanto da perspectiva econômica, como da cultural. Outro aspecto importante nesse rol de discussões diz respeito às identidades sociais e suas articulações com os processos de ocupação do território, as variadas formas de propriedade manejadas pelos diversos grupos sociais, suas peculiares formas de relação com o meio ambiente, com o trabalho e com os processos históricos mais amplos relacionados ao desenvolvimento do mundo capitalista.
Acreditamos que as questões anteriormente apontadas, e dadas as particularidades de suas escalas, permitem realizar uma apresentação geral dos temas que impulsionam a escrita da história sobre o universo rural brasileiro, defronte daquele que se apresenta como o segundo ou terceiro maior produtor de alimentos do planeta. Esses apontamentos permitem avançar, portanto, no questionamento de parâmetros estruturais da sociedade brasileira – como a exclusão social, a fome e a precariedade alimentar –, cujo impacto é perceptível no decurso da análise histórica.