Embora profundamente heterogéneo e hierarquizado, o clero foi até aos inícios do século XIX, em Portugal, a ordem mais prestigiada. Pela sua vinculação às instituições onde se transmitia o saber, pela mediação que proporcionava entre a população católica e o sagrado, pelos privilégios políticos, jurídicos, militares, honoríficos e económico-fiscais de que usufruía e, também, pelos bens e rendimentos de que disfrutava. Por isto, e fruto disto, era profunda a presença da Igreja em todos os domínios da vida coletiva, o que implica que não seja possível dissociar o campo religioso do campo económico, ou melhor, que as pulsações económicas do reino português e dos territórios ultramarinos sob seu domínio, não possam ser integralmente entendidas à margem do campo religioso. Os clérigos eram sustentados de distintas formas consoante os mais variados ofícios que desempenhavam, desde a capela à catedral, nas colegiadas, nos cabidos, nas misericórdias, nas confrarias, na Inquisição, na administração e justiça diocesana, nas ordens religiosas e nos órgãos régios. Por isso mesmo, evidenciavam diversos padrões de consumo e competiam entre si por recursos. É a essa luz que este painel será montado, visando discutir as dinâmicas que evidenciou no acesso, retenção e disputa de bens.