IV Congresso Internacional. 6-7-8 Setembro 2023. Universidade de Coimbra

SOBERANIA ALIMENTAR

Dinâmicas de produção e abastecimento na longa duração

Sessões

SESSÃO DE HOMENAGEM / SESIÓN DE HOMENAJE / TRIBUTE SESSION: Margarida Sobral Neto

Chair: Pedro C. Carvalho  – Universidade de Coimbra, Portugal

 

Maria Helena da Cruz Coelho – Universidade de Coimbra, Portugal

Ana Isabel Ribeiro – Universidade de Coimbra, Portugal

Albano Figueiredo – Diretor da Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra

José Pedro Paiva – Coordenador Científico do Centro de História da Sociedade e da Cultura, Universidade de Coimbra

Soberania Alimentar: dinâmicas de produção e abastecimento na longa duração. — SESSÃO DE HOMENAGEM / SESIÓN DE HOMENAJE / TRIBUTE SESSION: Margarida Sobral Neto — 15 de Julho de 2023

6 SET 2023, 12H00-13H00

Sala/Room: Auditório

Margarida Sobral Neto iniciou a sua carreira académica em 1975, com o estatuto de monitora, para lecionar as aulas práticas da disciplina de Introdução à História Económica e Social regida por Romero Magalhães. Para desempenhar as suas funções foi encaminhada pelo discípulo de Vitorino Magalhães Godinho para a leitura de obras de historiadores de referência da historiografia francesa, nomeadamente Marc Bloch, Lucien Febvre e Braudel. Ao mesmo tempo frequentava como aluna os seminários de Luís Ferrand de Almeida, historiador que viria a ser seu orientador de tese, e a quem cabe o mérito de ter introduzido temas de história agrária nos seminários de licenciatura. O seu trabalho de conclusão de curso foi dedicado ao regime senhorial na época moderna, apoiado em fontes de cariz jurídico e legislativo. Definia-se, assim, um campo de investigação que tem constituído um eixo estruturante das suas pesquisas com reconfigurações decorrentes da evolução dos estudos sobre usos da terra, relações sociais de propriedade e formas de distribuição do produto agrícola.

O estudo dos usos da propriedade comunitária e da conflitualidade gerada em torno da sua gestão, que envolveu ao longo do tempo vários várias instituições (senhorios, concelhos, estado) e comunidades, constitui outro eixo da sua investigação. A sua produção historiográfica conta com vários estudos sobre “Comuns”.

A tese de doutoramento de Maria Helena da Cruz Coelho, O Baixo Mondego nos finais da Idade Média, levaria a Margarida Sobral Neto a optar pelo estudo deste território na época moderna e a centrá-lo no senhorio dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, em conexão com outras entidades e instituições concorrentes no mesmo espaço. O objetivo inicial era estudar a configuração do regime senhorial, nomeadamente as relações entre as entidades senhoriais e os camponeses definidas em contratos agrários, a tributação senhorial, os mecanismos de cobrança de rendas e os usos sociais da terra. Contudo, o confronto entre a norma e a transgressão permitiram a identificação e a análise de mecanismos informais de apropriação dos recursos naturais e da terra e de outros beneficiários da renda agrícola.  Por outro aldo, a documentação judicial desvendou a conflitualidade entre a entidade senhorial e os movimentos de contestação senhorial que se tornaram elementos centrais deste seu estudo.

O senhorio da Universidade tem sido outro eixo da investigação, tendo sido objeto de análise referente ao período que decorre entre 1770 e 1836, esperando-se a publicação de um estudo de maior fôlego e situado na longa duração.

Destaca-se, ainda, em Portugal, na abordagem da História Rural com uma forte vertente ambiental, explorada, por exemplo, num texto pioneiro, publicado em 1994, com o título “A valorização e defesa do ambiente na época moderna”.

Margarida Sobral Neto nasceu no seio de uma família rural republicana da Beira Interior, nas Terras do Demo de Aquilino Ribeiro. Não sabe distinguir as aves pelo pio nem é capaz de saber se “o ano vai bom ou mau” para determinada cultura. Guarda, no entanto, na memória o calor abrasador do tempo das cerejas e das malhadas, o chiar dos carros de bois sob o peso de sacos de batatas ou de milho, a alegria das boas colheitas ou a tristeza dos maus anos agrícolas prenuncio de fome e de pobres à porta. O mundo rural é a sua Casa. Os livros de Aquilino ou de Torga encontra o chamamento do elemento telúrico.