A época Moderna define-se como um período de mudanças na história da civilização europeia. No seio do processo da expansão marítima, as longas viagens, as prolongadas estadias em terras distantes e os contactos com povos e culturas inteiramente novos repercutem-se em mudanças tangíveis no quotidiano das sociedades de então. O fenómeno de circulação de bens e pessoas sofre um impulso nunca visto, redundando numa escala de globalização sem precedentes. O contacto com novas sociedades e a massificação da circulação de bens no espaço ultramarino promove a interacção comercial, social, política e ideológica, complexificando os quadros de referência económica e cultural.
O estudo da cultura material em arqueologia constitui um elemento determinante para a apreensão destas várias fácies da sociedade, difíceis de reconstituir apenas com base nos textos escritos. Muitos destes materiais (artefactos e ecofactos), para além de reveladores das actividades do quotidiano, indiciam contactos e rotas comerciais. A natureza diversificada dos espólios recuperados nas intervenções arqueológicas reclama o confronto com outros especialistas e especializações da Arqueologia da Expansão à Arqueologia Agrária, aproximando-nos de uma realidade nova e desconcertante que merece reflexão colectiva e debate histórico-arqueológico.
Atendendo à problemática geral deste Congresso – Soberania alimentar: dinâmicas de produção e abastecimento na longa duração pretende-se, nesta sessão, juntar em debate investigadores que apresentem trabalhos centrados entre o final da Época medieval e a transição para a contemporaneidade, e que, partindo da cultura material, contribuam para ampliar o conhecimento histórico sobre a produção, circulação e transporte de bens agrícolas em contextos europeus ou ultramarinos.